Coração de Estudante

Minha prima conta que no meu primeiro dia de aula ela se frustrou. Ela foi quem me levou à escola, e como “tradição”, as crianças choravam para não ficar na escola. Aquela coisa que tudo mundo conhece. Bem, ela já estava com o discurso na ponta da língua pra me convencer a ficar na escola. Mas pra surpresa geral, quando cheguei ao colégio, sai correndo e nem dei um abraço de despedida nela.

Num sei o que isso quer dizer. Se eu gostava de estudar, ou de bagunçar e brincar. (que é o que crianças de 3 anos fazem na escola.)


Outra historia interessante do meu tempo de educação infantil, foi quando na alfabetização levei um estilete pra escola, e, durante a aula fui fazer a ponta do lápis me sentindo o tal, já que todo mundo fazia a ponta com apontador; alguns coleguinhas vieram pedir pra eu fazer a ponta também, e, fui dá uma de ‘zé graça’ e tentei dá um susto em uma colega. Consegui dá o susto, porque quase arranco o polegar da menina fora. No final da aula fiquei trancado no banheiro com medo do pai da garota até 1hr da tarde. Triste.

No final desse mesmo ano, fui obrigado a dançar Chiquititas (Mexe mexe mexe com as mãos...) na minha festa dos Doutores do ABC; e quando fui com minha mãe pegar minha transferência, o diretor insistindo pra eu continuar no colégio, falou: “Rodrigo, eu dou um bolsa pra você continuar estudando aqui.” Eu respondi: “não, a que eu quero é muito cara. Eu quero uma de carrinho!” Uma coisa que foi frustrante durante toda minha vida colegial: Nunca tive uma mochila de carrinho e minha lancheira nunca foi de nenhum desenho animado. Leva a merenda numa vasilha da tupperware enrolada em uma toalhinha.


Tenho essas e outras memórias com muito carinho e muita alegria. Naquela época era muito gostoso estudar, era leve, tudo era divertido. Quem nunca brincou de “quem termina de copiar primeiro?!” ?

E toda novidade fazia você se sentir mais adulto e mais crescido. Como quando na 4 ª serie, Estudos Sociais passa a se chamar Historia e Geografia; e na 5ª serie então, que você passa a ter um professor pra cada disciplina.

No ensino fundamental as mudanças vão ocorrendo; principalmente com você. Você começa a identificar as matérias que mais lhe agrada. Descobre que quando você apronta alguma não vai simplesmente um recadinho pra sua mãe na agenda. Vai perdendo o interesse em ficar correndo durante o recreio. Começa a ter as primeiras paquerinhas. Vê que professor pode ser uma pessoa mais chato do que você imaginava. Descobre que ir ao cinema no lugar de estudar é mais divertido. . Perde o medo (e em alguns casos, até o respeito) pelos professores.


No ensino médio o bagulho já fica mais tenso. Estudar deixa de ser divertido ( o que não quer dizer que ir à aula não é divertido) e passa a ser sinônimo de responsabilidade. Começa o papo de vestibular, de carreira, de profissão. As matérias começam a ficar mais difíceis, mais complicado.

No meu terceiro ano, ano D, joguei tudo pro alto e disse: “vou estudar em casa! Escola esse ano vai ser só pra me divertir.” E não teve um ano que me diverti tanto. E faltei tanto. (Afinal foi ano de olimpíadas e eurocopa. rsrsrs). A paciência com os professores parecia ter acabado.

Ano de pré- universitário é um ano decisivo. E isso me deu um certo medo. Escolher o que você vai querer para seu futuro é muito complicado, essa idéia de pra sempre não me agrada. Num momento de muitas dúvidas sobre o futuro fora da escola, eu e meus amigos montamos uma banda pra garantir nosso futuro. Era a N.D.A, que seguia a linha: “música triste para alegrar o povo!”. E nessa brincadeira, lá se foram algumas aulas de biologia... que me fizeram falta nas provas de vestibular.


O engraçado é que o sonho de todo estudante (um bom estudante que se preze pelo menos) é parar de estudar. Comigo sempre foi assim. Quando era moleque (educação infantil), meu pai tinha um bar, e trabalha ate de madrugada; então quando eu me levantava pra ir à escola ele ainda tava dormindo. Quando via ele deitado em sono profundo, pensava comigo: “Tudo bem, eu vou pra escola, vou estudar, que quando eu crescer vou puder dormir ate tarde.” Depois você passa a contar os anos pra terminar o colégio. Ate que no ensino médio você descobre que vai ter que estudar mais 4 anos (sendo otimista). No 3º ano eu pensava, que se eu passasse no vestibular as coisas iriam mudar. Eu ia estudar quando quisesse, ia pra aula quando quisesse, ia estudar menos. Ia ter menos pressão. Ia ser só curtição, estilo American Pie. Doce ilusão a minha.


Lá em casa quando o assunto era nota, a conversa era séria. Minha mãe, que era professora, pegava duro no meu pé. Só o 10 era bom pra ela, se eu tirava um 9,5 por exemplo, ela dizia: “Legal! Mas esse 0,5 que faltou foi porque você preferiu jogar futebol na semana de prova.” Ela nunca tava satisfeita, mas isso teve suas vantagens

Por isso no colégio eu fui um aluno exemplar. Talvez quando se fala em comportamento não sou o melhor exemplo a ser citado, mas se tratando de nota, nisso eu era um exemplo a ser seguido.

Tinha uma facilidade para aprender. Bastava alguns minutos de atenção durante a aula e estudar na véspera. Pronto, isso já garantia meu 9 ou meu 10.


Na faculdade as coisas mudaram.

Eu descobri que sou burro quando entrei para a faculdade. Não tenho mais facilidade para tirar boas notas. Ralo muito pra ficar com um 7 ou com um 8. E muitas vezes meus esforços são inúteis.

Na faculdade as coisas mudam muito. Não existe mais professor e coordenação grudado no seu pé mandando você estudar. Você é bem livre para fazer “o que quiser”. Se vai ou não assistir aula, se vai estudar... enfim. Mas fica claro logo de cara que essa liberdade tem conseqüências, e que ela não demora a aparecer. Por exemplo: é sempre bom ter cautela com os professores, porque eles podem lhe ferrar legal.


Quando você se torna estudante universitário as coisas de estudante ganham outra proporção. As amizades, as paquerinhas, as conversas, tudo tem outro sentido, outro nível.

Um nível eu diria ‘semi-molecagem adulta’. De jovens que se alternam entre a diversão e besteiras próprias da faixa etária e a responsabilidade de profissionais em formação.

Ou seja... mais alegria e mais historias pra contar. Para o estudante universitário por exemplo, não existem mais os estereótipos do nerd, descolado, esquisito, maluco, patricinha. Todos se juntam na mesma mesa da biblioteca para estudar para aquela prova difícil assim como sentam na mesma mesa do barzinho ou da lanchonete.


Vida de estudante é isso. É essa alternância. É passar o feriando estudando ou fazendo um trabalho. É faltar aula pra ir a uma festa. É ficar de saco cheio, ter impaciência. É entregar uma prova em branco. É repetir o mesmo exercício 300 vezes ate encontrar a resposta correta. É desistir na 1ª tentativa. É segurar a prova até o ultimo minuto. É algo indecifrável. É alguns momentos de tristeza. É ter arrependimento por não ter estudado mais. É ter arrependimento por ter perdido tempo estudando. E é muitos momentos de alegria.


Sou estudante há 16 anos, nunca passei mais de 3 meses sem estudar. E por mais que bata aquele cansaço e a vontade de dar um tempo. Ser estudante é bom demais. E se Deus quiser ainda vou ter muitos anos como estudante. Ainda vou terminar a facul, quem sabe fazer um segundo curso e uma especialização talvez.

Então, um VIVA ao Dia Nacional do Estudante.!


Um comentário:

  1. Ameiii Rodrigoo!!!!
    Muito boas as suas palavras e reocordações d einfancia!(identifiquei-me em muitos momentos). Acho que cada um que leu se identificou um pouquinho com um ou outro trecho, bolei de rir milahres de vezes. hehehe. Toda a trajetória do estudante é realmente quase que infinita. Mas é isso, o que seria de nós sem a bendita "educação"! Pra quem não tem "peixe", este é o degrau para conquistar um lugar ao sol. Muito bom! Tá de parabéns pela resenha.
    Beijão fera!

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